Saí do primeiro culto de 2013 agora à noite e a primeira música que me veio à cabeça foi um hino? Não… Mas, até que poderia ser – se você forçar um pouquinho a interpretação, como essa minha mente fértil o fez:
Um Dia de Domingo (Tim Maia)
Eu preciso te falar
Te encontrar
De qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar
De encontro ao ventoEu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol
Que te bronzeiaEu preciso te tocar
E outra vez
Te ver sorrindo
Te encontrar num sonho lindoJá não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingoFaz de conta que
Ainda é cedo
Tudo vai ficar
Por conta da emoçãoFaz de conta que
Ainda é cedo
E deixar falar a voz
Do coração
O grande e saudoso Antonio Maia cantava a espera do reencontro com uma pessoa amada. Mas, ao ouvir na saída da igreja os desejos de “uma boa semana”, comecei a pensar com que tipo de Deus algumas pessoas se relacionam. Será um Deus que só “trabalha” aos domingos? Um Deus que só tem tempo para falar conosco, ouvir nossas preces e músicas em duas ou três horas de um dia específico da semana? Um Deus que só procuramos pra sentar e conversar por alguns instantes, pra suprir nossos desejos, anseios e desabafos?
Aí, lembrei-me de algumas frases de Philip Yancey, no livro: “Igreja: Por que me importar – Redescobrindo a alegria de viver em comunidade”:
“Seguir a Cristo é uma coisa, seguir os crentes ao lugar de cultos aos domingos, é outra totalmente diferente”
“Quanto mais se fica longe da igreja, mais estranha ela nos parece”
Nesta noite de domingo, o Rev. Valdinei Ferreira pregou sobre o tema “Prioridades” e usou como base o texto bíblico de Lucas 10, versículos 38 a 42. Neste trecho, Marta briga com Jesus, ao recebê-Lo em sua casa, porque toda a tarefa doméstica estava com ela e sua irmã, Maria, não parava de ouvir o Mestre.
Entre diversos pontos, chamou a minha atenção a observação de que muitos cristãos tornam o serviço eclesiástico um trabalho extremamente cansativo. Muitos iniciam atividades pelo prazer de servir, mas, ao final, carregam o peso de um trabalho árduo. O Rev. Valdinei chamou a atenção ao fato de que Marta perdeu o foco no que fazia e passou a observar a sua irmã, assim como muitos cristãos deixam de prestar atenção em Deus e passam a focar a instituição e seus membros.
Assim, quando o foco passa a ser horizontal, corre-se o risco de desanimar ao ver as várias pessoas que não estão trabalhando com o mesmo afinco – ou nem estão fazendo nada; a nos magoar pelo serviço que fazemos e não é reconhecido; e a ficar arrasados quando, mesmo sendo os únicos a efetuar uma tarefa, ainda sermos duramente criticado.
Gostei quando foi falado que o foco do cristão não é a instituição. Muitas igrejas ainda não entendem isso. Lembrei-me da sequência do livro de Yancey, quando ele explica por que “minhas viagens para longe da igreja sempre fazem um círculo e acabam me trazendo de volta”, como fica claro nesses trechos.
“O cristianismo não é mera fé intelectual interna. Ele só pode ser vivido dentro de uma comunidade”
“Sempre que deixo de ir à igreja por algum tempo, descubro que sou eu quem sofre”
“Quando vou à igreja, aprendi a olhar para cima, ao redor, a olhar para dentro e para fora”
“A Igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar a auto-estima ou facilitar amizades, mas, para adorar a Deus”
Uma igreja ensimesmada, que preza única e exclusivamente pela autopreservação não tem nada de cristã ou bíblica. Como disse o arcebispo William Temple: “[A igreja] é a única sociedade cooperativa no mundo que existe em benefício dos que não são membros”.
Comecei a falar de domingo, o que buscamos e derrapei para os problemas da igreja institucional. Se você já me conhece de outros tempos, sabe que tenho o dom da prolixidade. Mas, retomando, na verdade o que queria dizer é que os problemas não estão especialmente na igreja. “Ela” não é culpada. O problema está em nós. Pessoas que vivem um cristianismo dominical e brincam de que se relacionam com Deus.
Domingo pode ser um dia especial para comunhão, adoração, encontro. Mas, a vida de um cristão coerente é um domingo a cada dia, relacionando-se com Deus e com o próximo. Diariamente.