Expectativas

No quesito expectativas, sou um grande fracasso. Geralmente, as jogo ao mais baixo patamar, para que não me decepcione quando as outras pessoas não agem de acordo com o que eu gostaria. E, mesmo preparado, me frustro quando isso acontece.

Perfeccionismo, orgulho, falta de confiança. Talvez, aí estejam alguns dos problemas que nos impedem de delegar tarefas, aceitar defeitos, acatar nossa falibilidade e nossas limitações. E isso torna muito mais difícil qualquer tipo de relacionamento. No trabalho, pode nos tornar tiranos, principalmente se liderarmos alguém; na família, pode nos impedir de amar, pois nunca vamos nos sentir correspondidos; e, talvez o pior, conosco, pois somos tão “auto-exigentes” que acabamos por minar nosso amor próprio.

Mas, o que não é a vida, senão um grande aprendizado? Infelizmente, nossa natureza humana pecadora aprende mais com os erros do que com os acertos. Confesso minha dificuldade em aceitar de alguém menos do que o que eu possa oferecer. Aprendi, no decorrer dos anos, através de exemplos de vida, a buscar nada mais do que a excelência naquilo que faço. Antigamente, equivoquei-me pensando que isso significava “buscar ser sempre o melhor”. A frase é bonita, mas a tentativa de executá-la pode levar à frustração ou à fadiga extrema. Cheguei à conclusão de que preciso “buscar ser o melhor que eu possa ser”. Ou seja, preciso cientificar-me das minhas limitações e, principalmente, das limitações daqueles que me cercam. E preciso aprender a ser humilde e a apreciar e elogiar quando alguém se sai melhor do que eu em alguma tarefa.

No campo dos relacionamentos isto é ainda mais complicado. Não se trata de um job a ser efetuado para um cliente, uma meta a ser alcançada. Trata-se de trabalhar o amor próprio e o amor ao outro. Pensei nisso nessa madrugada, quando fui acordado para meditar um pouco sobre o assunto. E meu companheiro nessa reflexão, mais uma vez, foi o Pe. Henri Nouwen:

Coloque limites para o seu amor

Quando as pessoas lhe mostram os seus limites ( “eu não posso fazer isso por você” ), você se sente rejeitado.  Você não pode aceitar o fato de que outros não possam fazer por você tudo aquilo que você espera que façam. Você deseja amor sem limites, carinho sem limites e doação sem limites.

Parte de sua luta é colocar limites para o seu próprio amor – algo que nunca fez. Você dá o que quer que seja que as pessoas esperam de você e, quando pedem mais, dá mais, dá mais, até que sinta exausto, usado, manipulado. Somente quando for capaz de fixar as suas próprias limitações você será capaz de reconhecer, respeitar e até agradecer as limitações de outros.

Diante das pessoas que lhe são queridas, suas necessidades vão aumentando, até que elas se sentem tão sufocadas pela sua carência que, a fim de sobreviver, são praticamente forçadas a deixá-lo só.

A grande tarefa é a de reintegrar-se em si mesmo, de modo que você possa manter as suas necessidades dentro dos seus próprios limites, controlando-as na presença daqueles que ama. A verdadeira reciprocidade no amor exige que as pessoas sejam donas de si mesmas e possam doar-se enquanto permanecem fiéis à sua própria identidade. Assim, para ser capaz de, ao mesmo tempo, dar com mais generosidade e respeitar suas próprias necessidades, você precisa aprender a colocar limites ao seu amor.

(Henri Nouwen, in: A voz íntima do amor. Uma jornada da angústia para a liberdade) – grifos do autor do blog

Sobre Fábio

Indefinido. Abstrato. Prolixo. Jornalista. Músico. Ciclista.
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